Muitos profissionais, de várias profissões, tem alguem como referência, outros tem ídolos, pra mim o jornalista Ricardo Boechat é a mistura dos dois, ídolo e referência para a criação desse Boca Maldita. Ácido, independente, sagaz, de uma grande inteligência e bagagem cultural como poucos, mas que utilizava-se de uma linguagem mais simples, podemos dizer popular, e isso o consagrou.
Por Sérgio Marra/Boca Maldita (TO)
Boechat utilizava-se muito do humor, sarcástico é verdade, para lidar com a bandalheira política que temos no Brasil, é a ferramenta que melhor exprime e chega ao povo. Ao contrário de jornalistas que escrevem para tentar ganhar prêmios, ou sobressair-se perante outros jornalista, de igual pensar, Ricardo Boechat procurava traduzir suas críticas e opiniões numa forma mais popular, e assim, atingir o maior número de brasileiros, e conseguiu.
Independência era outro traço profissional intrínseco em como exercia sua profissão, na contra-mão do mercantilismo que se transformou a "nova" comunicação, em tempos de redes sociais e sites. Hoje se escreve sobre quem paga, ou critica-se quem é oposição a quem paga, e dessa forma pouquíssimos tem opinião, até porque nem podem dá-la já que está contaminada na defesa de quem o contrata. E Boechat rompia isso de forma isenta, independente, e virou ícone no jornalismo brasileiro, território que poucos tem coragem, ou não podem expressar ou criticar políticos ou os desmandos brasileiros.
Hoje vendo matérias sobre a morte do jornalista ouvi uma frase: "Os seus posicionamentos demonstravam que ele era fora-da-casinha". Por quê fora da casinha? Por que não era controlado através do poder financeiro, ou da pressão autoritária. Era o que podemos dizer um anarquista jornalistico.
Quer um exemplo? "Eu sou favorável a jogar ovo, eu sou favorável à revolta, a quebra-quebra. Vandalismo? É o cacete! Vandalismo é botar as pessoas quatro horas na fila das barcas todo dia, vandalismo é mandar segurança baixar porrada todo dia em passageiro da Central do Brasil que não aguenta mais ser tratado como gado. Isso é que é vandalismo! Vandalismo é roubar como um condenado com dinheiro público, vandalismo é matar meu filho dentro de um hospital por falta de médico, remédio enquanto há esquema de corrupção que a gente cansa de ver aí dentro dos hospitais. Revolta não é vandalismo!"
Vemos que alguns políticos e administradores municipais e estaduais, questionarem charges ou matérias que falem das falcatruas deles, muitos totalmente despreparados. Outros revoltam-se contra a publicação dos esquemas vorazes com que dilapidam o dinheiro público engordando suas contas bancárias. Deixamos aqui mais um texto de Boechat sobre isso: "Os vândalos verdadeiros, os criminosos verdadeiros, os saqueadores verdadeiros, os bandidos verdadeiros têm imunidade, têm distintivo de doutor, sua excelência, às vezes têm toga, carro oficial, segurança, prédio luxuoso, mordomias, cargos pra preencher, controle sobre verbas, peso pra negociar contratos, grana por fora pra campanha, grana por fora pra si mesmo, pra pagar pensão pra amantes, pra enriquecer, comprar um patrimônio gigantesco como muitos deles hoje ostentam, tendo entrado na política com uma mão na frente outra atrás."
Pra nós aqui do Boca Maldita perdemos um ídolo, uma referência, mas o pouco que aprendemos usaremos para através de nossas charges e textos humorados, porém ácidos, continuar a incitar, despertar brasileiros ainda adormecidos ou subservientes a políticos matreiros que se acham "otoridades", e utilizam o dinheiro do povo para humilhá-los, querendo passar a imagem que estão ajudando ou fazendo um favor.
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