Páginas

As duas faces de Siqueira Campos

Sim, ele ajudou no movimento para desmembrar o antigo norte goiano. Sim, tem seu nome na história do Tocantins. Mas...

Sérgio Marra/Boca Maldita(TO)

...existe muito mais do que apenas essa idolatria, esse culto a imagem, esse marketing vendendo para os tocantinenses, pelo menos os mais novos, um imagem que não condiz exatamente com o currículo político do ex-governador Siqueira Campos.

Se voltarmos tempos atrás poderemos entender a história do Tocantins, poderemos ver como foi os primeiros anos desse Estado, e como atuava a lendária União do Tocantins, grupo de partidos políticos que mandavam e desmandavam na política e na vida das pessoas.

Siqueira eleito governador administrou o Estado com mão de ferro, perseguições, censura à Imprensa, humilhações... Siqueira criou um grupo de partidos políticos que denominou União do Tocantins (UT), com projeto de mandar no Estado por 20, 30 anos, Siqueira elegia quem queria.

Siqueira "criou" a maioria dos políticos da época, mas não os respeitava, tratava na chibata. Os deputados estaduais lhe obedeciam cegamente, o ex-governador batia em sua máquina de escrever os  discursos que os deputados iriam ler no dia seguinte. Esses políticos ganhavam o mandato  mas não tinham nenhuma autoridade, eram tratados, ou melhor, humilhados pelo governador que se dirigia a eles com expressões como: ‘Seus vagabundos, seus sem-vergonha, vocês não são homens’.

Se o Ditador agia assim com seus companheiros, imagina o que fazia com adversários. Quando ia fazer alguma inauguração, ou participar de algum evento, geralmente o local tinhas as ruas adjacentes cercadas e o acesso só era permitido aos adeptos de seu governo. Mas sempre acontecia de algum adversário passar, e se manifestar. Certa ocasião em Araguaína o governador participava de um evento no Parque de Exposições, quando Siqueira pegou o microfone para fala o cidadão gritou "Ditador", o governador não pensou duas vezes desplugou o microfone e atirou no manifestante, outra vez  chegou a dar um tapa em uma jornalista.

A Comunicação na época era todo de Siqueira Campos, jornal, rádios, tvs, todo o sistema de comunicação era comandado por ele, e tudo que fosse publicado e divulgado passava pela censura do governador. Quantos jornais, livros e revistas foram apreendidos, por conter alguma matéria que ele não gostava.


Os poucos veículos de comunicação que surgiam e não eram propriedades do governador e sua família, precisavam de contratos de publicidades do governo para se manterem, mas  receber pagamento pelos anúncios era uma tarefa árdua. Dependendo do que escreviam poderiam ficar meses ou ano sem receber um tostão, era a perseguição econômica, e quando a Secretaria de Comunicação resolvia pagar exigia propinas entre 30% a 50%, quem não aceitasse, não recebia.

Como as instituições estavam sendo implantadas no novo Estado, consequentemente não tinha fiscalização como Tribunal de Contas, Ministério Público, etc, imagina como agiam as empreiteiras? Corrupção e propinas era usual, cada um tinha seu esquema, cada um queria sua fatia no bolo.

Siqueira preparou seu filho Eduardo para continuar a ditadura tocantinense, o elegeu como primeiro prefeito de Palmas. Deslumbrado com o Poder seguiu os passos do pai, e transformou-se no "Príncipe do Mal".  Além das usuais perseguições, ESC (Eduardo Siqueira Campos) tripudiava e humilhava empresários e empreiteiros que mantinha contratos com sua administração. Além disso era comum cenas de "popstar alucinado" que o então prefeito de Palmas proporcionava. E tudo isso criou um enorme antipatia que ele carrega até os dias atuais, inclusive nas hostes siqueiristas.

Sabe-se que sua maior frustração é não ter conseguido ser governador, acrescente-se a isso que quando Marcelo Miranda foi "escolhido", para ser o candidato da UT para governador, ESC quase teve um colapso, viu seu mundo desmoronar.

Por isso que hoje existe essa tentativa de transformar Siqueira Campos em mito, o filho, que vive à sombra do pai, precisa para que consiga se manter na política. Do mesmo jeito que´forçar a candidatura do pai para senador para assim poder pegar carona e ter mandato, pois se Siqueira não se candidatar, Eduardo nada será.

A história é longa, muitos capítulos a serem narrados, mas que uma coisa fique clara, Siqueira ajudou no processo de desmembramento do norte goiano. Deputado federal na época fez greve de fome para forçar que deputados votassem a criação do Tocantins. Mas todo o processo foi iniciado por Teotônio Segurado e outros, Siqueira pegou carona e, logicamente, colheu os frutos elegendo-se governador e começar a implantar o Estado, e depois, juntamente com o filho, a Capital Palmas.

Siqueira Campos merece respeito como cidadão e pela sua idade, e pelo que, de alguma forma, fez para o Tocantins. Mas sua história política foi pautada pelo autoritarismo. Tem seu lugar na história, e pronto.



A SEGUIR
  • Passagens do livro "Ditador do Cerrado", de Rinaldo Campos
  • Siqueira tirava prefeitos e colocava interventores

Eleições 2018
  • "A falta de compromisso de muitos políticos"






Postar um comentário

0 Comentários

DESTAQUES

Contrato de 25 milhões para fornecer marmitas aos presos. MPE decide investigar